Goles Biodinâmicos III

bluebird-normal

Gostaria de estudar mais e degustar (isto ainda mais) os biodinâmicos.

A matéria do “Paladar”, 20/05/2015, de Isabelle Lima, sobre nova polêmica nesta área, me motivou a escrever este 3º post sobre o assunto. Refiro-me à condenação do produtor da Côte D’Or, Thibault Liger-Belair. Ao se recusar a usar “defensivos agrícolas” em seus vinhedos, sujeitou-se a uma condenação de 6 meses de prisão e multa de 30 mil euros.

Analisando em termos gerais, não sobre um país determinado, até porque não sei como funciona na França, pode-se ver sentido em um governo exigir, legalmente, que agricultores utilizem “defensivos” a fim de impedir a proliferação de pragas (na verdade este “sentido” pode ser facilmente refutado, mas enfim), mas sentido maior está no entendimento de que essa exigência legal, resultado de deliberações de legisladores, provenha da troca de favores e “influência” da indústria de biotecnologia nas discussões e “razões” que promulgam tal lei.

É sabida a intenção de se produzir “defensivos” e, à reboque, sementes transgênicas, as “sementes do diabo”. Trata-se da escravização do agricultor à indústria de biotecnologia, a edificação de um império agrícola artificial que submete cada vez mais produtores, extinguindo sementes camponesas e fechando o ciclo comercial: semente transgênica -> agrotóxico para tal. Isto sem trazer à discussão o impacto ambiental destas novas tecnologias.

Sinto que é temeroso o crescimento de produções (de qualquer produto) à escala industrial, a consequência é a criação de monopólios e o engolimento de pequenos produtores, que prezam por uma cultura artesanal e/ou regional.

No entanto, é preferível uma produção em larga escala de biodinâmicos a “sementes diabólicas” e seus primos agrotóxicos. E não porque a cultura biodinâmica considera fases da lua e elementos de outros planetas (isto tem um grande sentido para esta cultura e para a Ecologia mundial, mas não será tratado aqui), mas (em meríssimas justificativas) porque estas sementes só produzem uma safra, polinizam propriedades alheias, tornando, tanto o comprador da semente, como o alheio, escravos da indústria, extinguem sementes locais, impedem a troca entre os produtores e exigem que compre-se o combo, que se completa com o agrotóxico que, por sua vez, mata… mata pessoas, a terra, insetos bons para a cultura e outros microrganismos úteis (há, em posts anteriores sobre o tema, menções a evidências sobre isso). É tóxico, oras!

Neste sentido, interessante mencionar colaboradores da biodinâmica em larga escala como Thomas Brower da Mendocino Lavender Company, que cultiva campos de lavanda e produz essência atrativa de insetos polinizadores. A doutorando da UC Santa Cruz, Julie Jedicka, que construiu centenas de caixas de ninhos de aves em locais sem tratamento, com buracos largos o suficiente para aves benéficas, como “bluebirds” e andorinhas. Graças a ela, aves migratórias se deslocam para as casas de pássaros nos vinhedos na primavera, banqueteando-se dos mesmos insetos que ameaçam a saúde das videiras e se mudando no meio do verão, antes de haver alguma fruta madura que lhes seria um bom lanche. Há, também, o produtor Rudy Marchesi, da Montinore Estate, que conta com um excêntrico mecânico que lhe constrói máquinas, como um “lançador” e “recarregador” de composto que percorre 220 milhas de linhas de videiras no mesmo tempo em que um trator o cumpriria a um simples canto.

andorinhas

Portanto, se vivemos em um sistema de economia de mercado, que este o seja de forma limpa e que preserve e promova a diversidade de espécies animais e vegetais – macro e micros – e as relações pessoais.